Foto: Evandro Veiga
Coveiros reclamam de salários atrasados
Alexandre Lyrio
alexandre.lyrio@redebahia.com.br
alexandre.lyrio@redebahia.com.br
O servente Cristiano Leonardo dos Santos morreu vítima de derrame cerebral na manhã de domingo. Ontem, mais de 53 horas depois, o corpo do rapaz ainda aguardava para ser sepultado no Cemitério da Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas. “Eles disseram que não tinha funcionário para cavar a terra”, relatou Rosângela dos Santos, que, apesar de ter direito a uma cova gratuita, teve de pagar R$ 700 para enterrar o irmão em uma carneira (espécie de jazigo em forma de gaveta).
A família de Cristiano foi apenas uma das prejudicadas com a paralisação dos coveiros da Quinta, único cemitério de Salvador administrado pelo governo do estado. Eles garantem estar sem receber salários há quatro meses.
A situação crítica já se arrasta há algum tempo. Normalmente, a Quinta sepulta dez corpos por dia nas suas covas rasas. Mas, por conta dos atrasos, os coveiros iniciaram uma operação padrão, e o número de enterros diários chegou a três. Ontem, a promessa era parar de vez.
Até as 11h, nenhum sepultamento foi realizado. No final da manhã, porém, segundo os coveiros, a empresa White Limp Empreendimentos e Serviços de Manutenção, terceirizada responsável pela contratação da maioria dos funcionários, pagou um mês de salários. Os coveiros, então, voltaram à operação padrão e sepultaram 6 corpos.
Antes, porém, as famílias que necessitavam enterrar seus parentes viveram momentos de incertezas, revolta e tensão. “Além da dor da perda, a gente ainda tem que enfrentar isso. Vamos fazer o quê? Levar o corpo pra casa? O corpo tá aí e eles vão ter que enterrar, nem que seja na tora”, bradava o padeiro Jorge Silva, que tentava sepultar o sogro, Júlio Campos Sales, 61. “Sei que a culpa não é deles (dos coveiros). São trabalhadores e precisam ser pagos. A culpa é do Estado. Ninguém da direção atende a gente”.
Versões
A Quinta dos Lázaros tem dez coveiros, cinco por plantão. A White Limp, que atua no cemitério desde 2008, é responsável por seis e o estado por quatro.
A Quinta dos Lázaros tem dez coveiros, cinco por plantão. A White Limp, que atua no cemitério desde 2008, é responsável por seis e o estado por quatro.
Segundo Edson Araújo, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia (Sindilimp), até ontem eram quatro meses de salários atrasados e três anos sem férias. “Pagaram um mês hoje. E só".
Já o proprietário da White Limp diz que não deve um centavo aos funcionários. Segundo José Carlos Cabral, havia o compromisso com o Ministério do Trabalho de pagar 70% da dívida até 22 de dezembro, o que, diz ele, aconteceu. A outra parte, garantiu, foi paga ontem. “Não devo mais nada. Você acha que eu deixaria as pessoas sem enterrar seus mortos?”.
De acordo com o Sindilimp, o acerto diz respeito às rescisões de funcionários que já saíram. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra. É muita cara de pau”, diz Araújo.
A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que administra o cemitério, deu uma terceira explicação. De acordo com a assessoria, dois salários estavam atrasados e um foi pago ontem. A direção do cemitério não quis atender ao CORREIO.
Quanto ao servente Cristiano, ele teve o enterro pago pela empresa em que ele trabalhava. “Para enterrar na carneira, eles arrumaram um coveiro rapidinho”, ironizou a irmã, Rosângela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário