quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

DEU NO CAFÉ COM NOTICIAS - “MEMÓRIA IN MEMORIAM”


Tendo em vista mais um falecimento de um dos nativos mais antigos de Santo Amaro do Ipitanga e extremamente significativo pela herança cultural nos deixada, O Café Com Notícias amplia sua comunicação virtual com os seus leitores através da Série: Patrimônio Cultural – Memórias em Apuros: postando para a posteridade? Este novo conceito virtual do noticiário inaugura e visa difundir a importância de pessoas como Seu Candinho (in memoriam), assim como de outros conterrâneos jaz Santamarenses. Mas, para além deste (re) conhecimento chamar a atenção de quem compete à devida importância e valorização de tais pessoas ainda presentes. Elas constituem um legado cultural vastíssimo e excepcional, ímpar, singular. São verdadeiras jóias raras do nosso Patrimônio Cultural Material e Imaterial.

Lauro de Freitas – BA, 30 de novembro de 2012
A tarde linda caía e, com ela ia. Ia ao Cemitério de Portão uma pequena multidão, entre parentes, amigos e conterrâneos darem seu último adeus a um dos filhos mais antigos e queridos de Santo Amaro de Ipitanga – Cândido Viterbo de Santa Rosa, ou como popularmente era conhecido: “Seu Candinho”.
                                                                     Foto: Lília Sousa (arquivo particular)

Aos 99 anos, Seu Candinho foi testemunha da passagem do tempo nesta cidade. Nasceu em 1913, quando tudo por aqui eram naturalmente “lindas ruas nuas”. Ruas que andou, atravessou, passou, memorizou. Em quase um século de vida, acompanhou as muitas mudanças ocorridas desde então: o crescimento populacional, as transformações geográficas, sociais, econômicas, políticas e culturais, redesenhando tudo ao seu redor. “Memória Viva”, contava muitas histórias do seu cotidiano e das pessoas o que denota o muito do imaginário social das épocas e da região.
Ao ver, registrar e falar tudo que viveu para muitos, Seu Candinho postou um acervo cultural intangível para o povo Ipitanguense, e que, provavelmente deverá ser de alguma forma in memoriam lembrada.
Infelizmente, é mesmo assim que as coisas ainda acontecem. O significado, o valor e a excepcionalidade de uma pessoa como o “Seu Candinho” entre outras que por aqui jaz, é parte de um processo resistente de (des) conhecimento e (re) conhecimento do que é um Patrimônio Cultural. A discussão está em pauta, em uso, mais muito aquém do que deveria vigorar. Medidas de salvaguarda a serem devidamente adotadas em relação a tais peculiaridades populares como o Seu Candinho, estão, ainda, para muitos dirigentes no poder, na fronteira de uma linha tênue de prioridades entre o bem público e particular. Enquanto isso… “memórias in memórias” como a então recente do Seu Candinho e de outros como Maria das Dores Conceição – a Maria de Marombá, Antônio Pereira dos Santos apelidado popularmente como Antônio do Caranguejo, Dona Popó – primeira mulher vereadora do município, Senhor Totinha, Senhor Damião e Raimundo Nonato conhecido como Raimundo Bankoma.
Histórias do Seu Candinho
Um pé de quê? Seu Candinho em entrevista ao Blog do Bambolê disse que o TAMARINEIRO era a árvore mais velha da cidade. Segundo ele, quando era criança encontrou a árvore já bem grande e antiga e muita gente vendia os frutos da mesma no bairro das Sete Portas em Salvador.
Uma das poucas homenagens recebida em vida veio da publicação particular da autoria de Terezinha da Glória O. Magalhães: Jerônimo Gombé & Santo Amaro de Ipitanga, 2007.

 
Amavelmente, a escritora desta História Popular, logo de início rende agradecimentos especiais a Seu Candinho – sobrinho de Chiquinha  Britto sua mãe e a outros Santamarenses presentes e aos já ausentes. No capítulo V, da referida obra, quando a autora explana suas memórias sobre a aviação Latécoère – Aéropostale – Air France, narra brevemente, que, Seu Candinho, naquele tempo quando os aviões atolavam,  este tinha 20 anos. Estava na praça, em casa ou jogando bola, vinha alguém chamá-lo e a outros amigos, para desatolá-los. Cada um destes ganhavam 5 mil réis por cada avião desatolado. Candinho e alguns amigos, pegavam na cauda dos aviões e puxavam-nos para desatolá-los. Os aviões eram leves, pois só tinham um motor. Houve uma noite, que Cândido e seus amigos levaram um avião quebrado, sem o restante da cauda, em cima de um caminhão para as Docas em Salvador, deixaram este no Quarto Armazém das Docas, para embarcar num navio.


Em depoimento ao Café Com Notícias a Primeira Secretária da Academia de Letras e Artes de Lauro de Freitas Márcia Tude expressou seus sentimentos em relação à perda de um dos prováveis nativos mais antigos da cidade                    
“O falecimento de um ente querido é sempre doloroso, no entanto,       quando a morte chega para um mestre do saber como Seu Candinho, uma    pessoa que nasceu em Santo Amaro de Ipitanga em 1913 e que, portanto completaria 100 anos no ano que vem, questionamos sobre o que vem sendo feito em termos de cuidado com o nosso patrimônio imaterial.     Citações em revistas, livros e peças publicitárias? Homenagens com entregas de certificados em Instituições? Insuficiente demais para a carga de informações que foram perdidas com a sua partida, fundamentais para subsidiar possíveis ações contempladas pela emenda à lei orgânica número 06 de novembro de 2009, especialmente no parágrafo único do artigo primeiro, o qual informa que o Município adotará medidas de preservação dos bens imateriais, contemplando os nossos modos de criar, fazer e viver. Inúmeros exemplos de preservação dos saberes de uma cultura estão espalhados em excelentes projetos pelo Brasil inteiro que poderiam ter sido, ao menos, observados. Perdemos um ser humano rico de um saber identitário, incalculável”, desabafa Márcia Tude.
Patrimônio Cultural – Saiba mais!
“Pessoas são o mais importante do Patrimônio Cultural”, diz: Salma Saddi superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Portanto, com um novo outro olhar, devemos compreender que o Patrimônio Cultural Brasileiro não deve ser entendido em sua maioria simplesmente como às edificações ou objetos, mas também as almas dessas casas, coisas e lugares que são as pessoas. São elas que constroem a história e que sabem de uma forma ou de outra preservar e passar pelo tempo que lhe é permitido anos de cultura.
Enfim, o Café Com Notícias, discute diante de tantas inquietações a respeito do diverso Patrimônio Cultural que a nossa cidade açambarca as perspectivas objetivas das esferas governamentais: Municipal, Estadual e Federal em relação à aplicação dos princípios de Proteção Legal e da Educação Patrimonial dos seus bens, sejam de ordem material ou imaterial. Reflete ainda qual o papel que cada um de nós como cidadãos devemos exercer nesta sociedade considerando como primeiros passos o planejamento e o desenvolvimento de uma proposta efetiva em relação a tais demandas.

Exclusivo da Redação do Café Com Notícias.

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