segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ternos de reis lutam para manter tradição

Cleidiana Ramos
  • Fernando Vivas | Ag. A TARDE
    Terno da Anunciação abriu o desfile, neste domingo, e encerra festa após missa na Lapinha hoje
Quando os ternos de reis ganham as ruas da Lapinha, o espetáculo vai além da beleza dos figurinos, música e coreografia. Eles são a prova da resistência de uma tradição que desafia obstáculos, como a falta de recursos, ano a ano.
Dos 35 que já deram mais brilho à Festa de Reis,  celebrada nesta segunda-feira, 6, restam seis. Um deles é o Terno da Anunciação, que desfila  após a missa das 18h e é mantido pela Paróquia da Lapinha.
Ontem, após celebração que lotou a Igreja da Lapinha, o grupo da paróquia abriu o desfile, seguido de mais  cinco: Rosa Menina,  de Pernambués;  Terno da Lua,   Brotas; Estrela do Oriente, Liberdade; Ciganinhas, Coutos; e Terno do Sol, Pelourinho. 
  
"O processo de extinção é muito violento. Há mais quatro grupos no interior, mas não conseguimos transporte", conta José Santos, 66, presidente da União dos Tradicionais Ternos, Ranchos de Reis e Bailes Pastoris da Bahia.
Diante dos poucos recursos para promover  uma apresentação maior   - faltou o palanque, por exemplo -, a saída foi  concentrar os desfiles no dia 5 e deixar o encerramento apenas para o terno da paróquia. "Como os desfiles vão além da meia-noite, pelo menos começamos o dia 6 comemorando", disse Santos.
Tradição
O desfile de ternos é  uma das formas mais conhecidas de celebrar o Dia de Reis. Na liturgia católica, a data comemora a Epifania do Senhor, que lembra a visita dos três reis magos ao Menino Jesus.
Também chamados de "folia de reis", os ternos  são identificados, tradicionalmente, como uma manifestação de origem portuguesa.
No Brasil, passou por modificações e incluiu outros formatos como os  "bailes pastoris", que lembram as peças teatrais e os reisados - grupos de músicos que vão de porta em porta e são mais comuns no interior da Bahia.  
Os ternos têm uma estrutura que varia de 60 a 100 integrantes. Cada agremiação leva o seu estandarte e uma orquestra formada por instrumentos de sopro, percussão e cordas, como  banjo, cavaquinho e violão.
"Lutamos muito para manter o terno da paróquia. Fazemos feijoada e vendemos camisa. A ideia é  conseguir os recursos para manter as fantasias bonitas. O estandarte, que é todo de veludo, por exemplo,  está precisando de reforma", conta Naíde de Carvalho Simas, coordenadora do Terno da Anunciação.
O desfile deste ano recebeu o patrocínio do governo do estado. "É pouco, mas pelo menos veio", diz Naíde.
A queixa é em relação à prefeitura. "Mandamos o projeto desde março. Fizemos três reuniões, mas eles ficaram de apoiar apenas com o som", relata Jerônimo Santos.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Empresa de Turismo S/A (Saltur),  seguindo orientação da coordenação de jornalismo da prefeitura. Mas não houve resposta até o fechamento desta edição.
Em nota, a assessoria da prefeitura só divulgou  ações relacionadas à infraestrutura, como coleta de lixo, mudanças no trânsito, ordenamento de ambulantes e monitoramento da poluição sonora.
Polêmica
O desfile dos ternos de reis na Lapinha ganhou proeminência a partir de 1975. Nos últimos dez anos, a festa - assim como outras do período pré- -Carnaval - batalha para sobreviver.  
Uma das atrações do evento era o presépio montado pelo padre José Pinto,  pároco da Lapinha por  30 anos. Ele deixou a paróquia em 2006, após ter desfilado  com uma fantasia  de orixá na Festa de Reis e adotar outras atitudes polêmicas.
Atualmente, padre Pinto  vive no convento pertencente à Sociedade das Divinas Vocações, congregação da qual faz parte, localizado no bairro de São Caetano.

História dos reis magos traz lição sobre Jesus Cristo

O nome litúrgico da Festa de Reis é Epifania do Senhor. A data comemora a revelação (epifania) de Jesus  como rei da humanidade e filho de Deus. 
“A principal lição da festa é mostrar que a mensagem do Evangelho é para todos, sem  discriminação”, aponta o padre Denivaldo dos Santos, titular da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, localizada na Lapinha.
O padre explica que os  reis magos representam toda a  humanidade. Eles eram estrangeiros, sacerdotes da religião persa e cientistas, pois dominavam o conhecimento sobre os astros.
Para chegar até Belém, onde estavam Jesus e seus pais, eles seguiram uma estrela.
“O número três simboliza a perfeição.  A história dos magos indica como a ciência e o poder religioso conseguem  reconhecer um rei em uma criança humilde”, acrescenta o padre.           
A tradição popular deu nome aos três reis magos – Baltazar, Gaspar e Melchior. Além disso, considera que um é branco, outro negro e o terceiro amarelo na representação de todos os povos.

A TARDE

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