Carlos Vianna Junior
Ao lado de um grande monumento no Largo da Lapinha, que mostra o carinho e a importância dessa tradição para a comunidade local, e coloca o largo como a grande Meca dos Ternos de Reis, na Bahia, uma voz reclama da perda de importância que vem afetando a qualidade da festa. O monumento tem uns cinco metros de altura e sobre uma base elevada onde está escrito “Santos Reis Lapinha”, três fechaduras alinhadas, uma ao lado da outra, representam os três presentes dados pelos reis magos ao menino Jesus. Sob cada fechadura um dos três nomes: ouro, incenso e mirra. A voz que se queixa é a do aposentado Jaques Andrade.
Ele nasceu e cresceu no bairro, e frequenta a festa todos os anos há 50 anos, mesmo 20 anos depois de deixar o bairro. Ele fala da pouca importância que as autoridades públicas têm demonstrado pela festa. “Não é tão bonita como era antigamente, a falta de apoio às manifestações populares está deixando que ela se descaracterize”, conta. Para dar um exemplo, ele aponta para um carro que parou na beira da praça e com o som nas alturas que faziam meninas de shorts curtos dançarem um funk com palavras chulas, impróprias para um ambiente de manifestação religiosa.
E sua filha, a estudante de administração de empresas, Jamile Andrade, aponta o que chama de burrice dos administradores públicos. “Valorizando um lugar como esse, um evento de uma grandeza religiosa e cultural como essa, eu tenho certeza que seria um atrativo turístico importante para Salvador, principalmente, para uma população que é tão religiosa como a nossa. Mas, ao invés disso, Salvador está se especializando em festas barulhentas e grandes. Não acho que se deva acabar com o carnaval e, agora, com o Réveillon, mas acho uma burrice sem tamanho, não aproveitar essa beleza”, concluiu sua indignação.
Foi a primeira Missa dos Reis dirigida por padre Denivaldo no maior centro desta tradição em Salvador, a Igreja Nossa Senhora da Conceição da Lapinha, mais conhecida como Igreja da Lapinha. Ele assumiu a paróquia no dia 7 de abril do ano passado, e não escondeu a emoção de estar dirigindo pela primeira vez uma tradição popular e religiosa iniciada pelos portugueses antes mesmo de 1771, quando foi construída a igreja, que pode ser considerada a Meca dos Ternos de Reis, na capital baiana. “É um sentimento de gratidão, de grandeza e de paz”, disse.
E foi fazendo referência à sua gratidão “de estar dirigindo a sua comunidade rumo ao nascimento do menino Jesus no coração de cada um das centenas de pessoas que lotaram a paróquia que ele iniciou a missa. “A graça de Deus nos guiou até aqui, a Estrela Dalva nos guiou até aqui, nos convidando a anunciar o nascimento do Salvador”. E cumprindo sua missão de guiar seus fiéis nesse serviço, ele fala em um sutil tom de doutrina. “É importante que levemos para a anunciação do nascimento do menino Jesus, um coração limpo, por isso a importância de pedir perdão pelos pecados”, disse.
Desfile em vários pontos
Ele conta que os fiés tiveram três dias para purificarem os corações numa parte da tradição incluída, pelo polêmico Padre Pinto, em 1975. “Chama-se Trido de Preparação. Inicia-se no dia 3 e vai até o dia 6, quando se encerra as celebrações. São três dias de oração em que os fiéis têm a possibilidade de se confessar”, conta.
O ponto alto da tradição ocorre hoje e amanhã, com o desfile de dez Ternos de Reis, de diversas regiões da cidade como do Pelourinho, da Ilha de Itaparica, de São Caetano e também do interior como, por exemplo, Santa Amaro. Para o início da festa, o padre Denivaldo, abre um parêntese na missa para apresentar as portas estandartes do Terno de Reis da Paróquia com suas novas vestes. A entrada dos estandartes flamulando habilmente pelas mulheres em coloridos trajes típicos, foi um momento de emoção, acompanhado por uma canção popular que fala das pastorinhas, uma das muitas personagens dos ternos.
O Terno da Lapinha, por ser aquele que recebe os outros, é o Terno da Anunciação. Ao final da missa, com a bênção do padre Denivaldo, o Terno da Lapinha anuncia o nascimento do menino Jesus, que está, simbolicamente, alojado no presépio da igreja. Do Largo da Lapinha, o Terno da Anunciação segue até o Largo da Soledade, convidando a comunidade a visitar o recém-nascido e aassistir o Reisado, a dança realizada pelas diferentes alas dos ternos locais e dos visitantes. As apresentações são realizadas no anfiteatro ao centro do Largo da Lapinha, onde outros equipamentos fazem do largo a Meca dos Ternos, em Salvador.
FONTE : TRIBUNA DA BAHIA
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