sábado, 20 de setembro de 2014

Em entrevista, padre João Abel fala sobre os 50 anos de Ordenação Sacerdotal



“Estou profundamente agradecido porque a maior alegria na vida consiste em responder ao apelo de Deus e abraçar a vocação que Ele quer nos confiar sobre a terra”, afirma o padre João Abel
Neste mês de julho a  paróquia de São João Evangelista, em Vilas do Atlântico, comemora os 50 anos de vida sacerdotal do padre João Abel. Para celebrar a vocação sacerdotal, a equipe do jornal São Salvador realizou uma entrevista com o padre que, desde 1971, é missionário em terras baianas. Durante o bate-papo, padre João Abel revela um pouco da sua trajetória vocacional. Confira!
São Salvador – Que sentimento o senhor vivencia ao celebrar 50 anos de sacerdócio ?
Padre João Abel - Estou profundamente agradecido porque a maior alegria na vida consiste em responder ao apelo de Deus e abraçar a vocação que Ele quer nos confiar sobre a terra. E agora, depois de 50 anos de serviço a Deus e aos irmãos na vida sacerdotal, sinto que sintonizei com os desígnios de Deus na minha existência de cada dia. Por isso, fico grato e alegre e peço que a vocação sacerdotal seja acolhida por muitos jovens na Igreja de hoje.

São Salvador – Nesses anos dedicados à Igreja, o que lhe manteve firme na vocação ?
Padre João Abel - Toda vocação passa por momentos de provações e questionamentos. Não foi diferente comigo. Mas fiquei firme porque encontrei pessoas de fé e bom juízo que me ajudaram a superar os desafios. Além disso, o exemplo de fidelidade dos meus pais, na vida matrimonial, foi importante. Da mesma forma, não deixou de ser marcante a companhia do meu irmão, padre Maurício, que exerce também o seu ministério sacerdotal aqui em Salvador, na paróquia São Gonçalo do Retiro. Na ação pastoral, sempre trabalhei em equipe, com padres, leigos e sobretudo irmãs muito dedicadas, que me ajudaram a trabalhar com empenho e entusiasmo.

São Salvador – A partir de que momento em sua juventude o senhor teve certeza de que queria ser padre ?
Padre João Abel – Tive um tio, padre jesuíta, que exerceu seu ministério sacerdotal em dioceses da França com poucos padres. Nos últimos anos dos meus estudos secundários, no seminário menor de Floreffe na Bélgica, havia tempos de oração silenciosa, à noite, na capela. Várias vezes, nestes momentos de recolhimento, despontavam em mim paz e alegria quando pensava na vocação sacerdotal. Também em outras circunstâncias, em plena atividade, de modo inesperado. Mas a hora decisiva chegou aos 18 anos quando falei, de coração aberto, da minha caminhada vocacional, com o presidente do Colégio para América Latina de Louvaina. Ele me convidou a entrar no Colégio para progredir na vocação sacerdotal e assim me achei confirmado no desejo de ser padre.
São Salvador –  O senhor é belga e já trabalha no Brasil há muitos anos. Vir para cá foi uma escolha sua ? O que lhe motivou ?
Padre João Abel – Desde o início, a vocação sacerdotal era vinculada para mim à ação missionária fora da Europa. E a Igreja da Europa ocidental, nesta época, estava voltada para a América Latina. Quando entrei no Colégio para América Latina, escolhi a língua portuguesa,  o país da minha preferência. Em seguida, Dom Eugênio, Arcebispo de Salvador, estabeleceu contatos regulares com o Colégio de Louvaina, solicitando o envio de padres para sua Arquidiocese. No final dos estudos, o presidente do Colégio nos fez, a mim e ao meu irmão, que agora estava comigo no Colégio, a proposta de nos enviar a Salvador para atender aos pedidos de Dom Eugênio. Aceitamos logo o convite. E assim,  desde janeiro de 1971,  estou trabalhando como padre na Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Sou atualmente  pároco da paróquia São João Evangelista, em Vilas do Atlântico, completando este ano 44 anos de Brasil.

São Salvador – Vivemos num tempo em que a juventude tem dificuldade em se comprometer com as coisas sérias da vida. O que pode ajudar um jovem a discernir a própria vocação ?
Padre João Abel - O grande desafio para o jovem de hoje é de não se fechar sobre si mesmo  ficando num mundo de fantasias  digitais, virtuais e artificiais sem relacionamento gratificante com Deus e o próximo. Para fecundar o chão do discernimento da própria vocação, é preciso sair de si mesmo e abrir o coração a Deus e aos irmãos. É Jesus que indica este caminho quando declara : “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (João, 15,13).
São Salvador – Mesmo com todos os desafios que a Igreja vive atualmente, ainda vale a pena ser padre ?
Padre João Abel – “Eu lhes darei pastores” proclama Deus na Sagrada Escritura. A iniciativa vem de Deus. Ser padre, pastor do povo de Deus, é receber de Deus Pai a graça de encarnar o sacerdócio do seu Filho Jesus, em sua vida e no mundo de hoje. Isto significa que com Cristo, de modo consciente, o padre renuncia ao casamento e assume o celibato como dom de Deus para  “ser tudo para todos”, segundo a expressão eloquente de São Francisco de Sales . Os desafios que a Igreja vive atualmente podem ocultar o sentido da vida sacerdotal mas nunca vão apagá-lo. A melhor resposta que o padre dará aos desafios da hora presente está no caminho da santidade. O padre é chamado a ser protagonista da santidade no convívio com seus irmãos. Eles sempre se alegram e louvam a Deus pela presença de padres santos no seio da Igreja.

São Salvador – Em 50 anos vimos a Igreja florescer com a realização do Concílio Vaticano II. Como o Senhor participou dessa fase? O que ela representou para o senhor?
Padre João Abel – Como se sabe, o Concílio Vaticano II realizou-se, em Roma, de 1962 a 1965 justamente nos anos de minha formação em teologia na Universidade Católica de Louvaina. Realmente vibramos com a celebração deste evento importante na história recente da Igreja . O cardeal Suenens da Bélgica estava no grupo dos quatro moderadores do Concílio. O redator final da Constituição sobre a Igreja, o professor Gérard Philips, ensinava dogmática na faculdade de teologia de Louvaina. Os outros professores foram quase todos peritos nas diversas comissões. Mas, a partir do momento em que cheguei ao Brasil, vibrei também com a atualização do Concílio Vaticano II, através das Conferências de Medellin, Puebla, Porto Rico e, por último, Aparecida. E agora, com o Papa Francisco, a atualização do Concílio Vaticano II está se aprofundando. Sejamos com ele membros ativos de uma Igreja renovada e corajosa.
São Salvador – Deixe, por favor, uma mensagem para os leitores do São Salvador.
Padre João Abel – Convido todos os leitores do São Salvador a rezar pelos três padres da Arquidiocese que celebram este ano o seu jubileu de ouro sacerdotal. São eles: Monsenhor Walter Jorge Pinto Andrade, o cônego Gaspar Kuster, e eu, o ator principal desta entrevista. Peçamos também, quando rezamos pelas vocações, que Deus faça florescer em nossas famílias vocações sacerdotais e religiosas que ajudem a Igreja de hoje a crescer na unidade. Enfim, desejo que cada um seja feliz no seguimento de Cristo e no cumprimento de sua missão sobre a terra.
FONTE :
Arquidiocese de São Salvador da Bahia

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