segunda-feira, 2 de setembro de 2013

DOMETILA GARRIDO - 1ª REPÓRTER MULHER DA BAHIA - MORADORA DE LAURO DE FREITAS

 Por Fabiano Bluz
Dometila Garrido
1ª Repórter Mulher da Bahia

Foto de Formatura 
Mulher com espírito empreendedor, Dometila Cerqueira Garrido do Val, atualmente com 80 anos, nascida em 29 de agosto de 1933 num pequeno sobrado no bairro de Roma, destacou-se nas décadas de 60 e 70 pelas diversas atividades executadas.
Formada em Contabilidade pela Faculdade de Ciências Econômicas, exerceu por pouco tempo a sua profissão. Em 1961, ao declamar o poema Vozes D'áfrica de Castro Alvez, foi convidada pelo presidente do sindicato de jornalismo para escrever na redação do Diários Associados, em uma época onde as redações de jornalismos eram compostas exclusivamente por homens, tornando-a a primeira mulher a ocupar um lugar no diário. Segundo Domitila não sofreu nenhum preconceito, pelo contrário, era protegida – “Jehová de Carvalho me protegia”, referindo-se ao colega jornalista. Mas no início precisou impor respeito. “Eu usava um sapato de salto fino com capa-fixa. Quando batia no assoalho fazia muita zoada e batia para não ouvir palavrões. Depois de um ano o palavrão foi liberado”. 


Dometila fazia reportagem geral. Sendo que a única editoria que não fez foi a de polícia. No Diário de Notícias fez coberturas de diversos episódios da história da Bahia, como a visita da Majestade Rainha Elizabeth II e do Príncipe Philip, Duque de Edimburgo, no Palácio da Aclamação onde deu uma única nota informando que a Rainha Elizabeth II tinha tomado um suco de pitanga.

Carlos Alberto Nóbrega e Ronald Golias
visitando a redação do Diário de Notícias
onde Dometíla é a única mulher a trabalhar
Também sofreu com a ditadura quando foi detida em 1967, onde estava indo cobrir uma manifestação na Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador, três policiais a abordaram e a conduziram a Delegacia de Jogos e Costumes por considerarem a sua atitude suspeita. Segundo ela os policiais eram cariocas e estavam a pouco tempo aqui na Bahia e a confundiram com o Diários Associados do Rio de Janeiro que era de esquerda. “O interessante nesta história é que não tinha nenhuma viatura disponível e fui conduzida para a delegacia com o meu próprio carro” conta Dometila, que naquela situação foi liberada após algumas horas sob a condição de que a página dedicada ao dia do Soldado saísse no dia 25 de agosto, caso contrário, nenhuma nota seria dada no jornal. No dia seguinte foi publicada uma nota de esclarecimento no Diário de Notícias informando que tudo não passou por equívoco.

Com um sangue espanhol herdado pelo seu pai, o srº Manoel Garrido y Garrido, casado com a baiana de Lençóis, a srª Julieta Cerqueira Garrido do Val, Dometila, exerceu outras atividades paralelo ao jornalismo, foi responsável pelo primeiro tablóide de vendas da Bahia, criado na época que trabalhava no setor de publicidade da extinta loja de departamentos Mesbla – “O tablóide não circulou por causa da revolução”. Foi Comissária de menores. Trabalhou na SUTURSA (Superintendência de Turismo do Salvador) – “Na época todo jornalista tinha que ter um emprego público”, fez o primeiro jornal de turismo do estado, Bahia Tur. Tentou trabalhar na rádio Excelsior, mas Paulo Nacif não gostou da idéia e deu um ultimato à amiga - “Ou lá ou aqui!” - e Dometila optou pelo Diário Associados. “Tudo isso porque o salário de jornalista era baixo, então eu completava a renda com outras atividades.” Disse Dometila.

Mas não para por aí, em 1961, Dometila é convidada por Paulo Nacif a participar de um dos maiores eventos, o Miss Bahia. Inicialmente como auxiliar de Kleber Pacheco e Ruth Pacheco. Em 1962 assume o comando do evento, que deixou de acontecer no Grande Hotel da Bahia e foi para o Ginásio Antonio Balbino, Balbininho, aumentando o público e a popularidade do evento. As personalidades da nata baiana, políticos, artistas e empresários, compareciam em massa aos desfiles para torcer pelas candidatas e ver as beldades de maiô. “Na época a grande sensação era ver as mulheres desfilando de maiô, hoje se mostra tudo, as mulheres desfilam de fio dental, ninguém esconde nada”... “Naquele tempo as garotas não podiam usar perucas ou fazer alterações no corpo. Tinha que ser naturais. Teve uma candidata que resolveu mergulhar na piscina do hotel durante a noite e esqueceu que estava de peruca. As meninas virão e me acordaram para ver. Ela foi desclassificada.” Relembra Dometila.
Vera Guerreiro
A maioria das candidatas eram de origem humilde e buscavam além da fama e das viagens os prêmios que eram dados. Todas as candidatas eram acompanhadas por suas respectivas madrinhas (que nem sempre eram as mães) que davam mais trabalho que as próprias candidatas. No seu último ano de desfile Dometila recebeu uma missão que era levar a primeira miss negra do estado, Vera Guerreiro, para conhecer o então presidente Costa e Silva. Odorico Tavares disse a Dometila que se ela não tivesse uma foto do presidente cumprimentando a miss que ela nem precisava voltar para Salvador. Dometila contratou todos os jornalistas disponíveis no evento. “Foi à miss mais fotografada de todas”, relembra.

Dometila não marcou a Bahia só nos grandes desfiles, a sua história também se confundi com a TV, aonde por trás das câmeras conduziu o programa Poder Jovem idealizado por Everton Bispo. Era um programa que promovia gincanas estudantis e dava oportunidade a jovens músicos como: Fernando Barros, publicitário e dono da PROPEG (agência de publicidade na Bahia) que tocava no grupo Os Mustangs, além de Morais Moreira, Pepeu Gomes e Gerênimo, os compositores Antonio Carlos e Jocafi. Dometila ainda produziu e criou outros programas como: O Assunto é Miss, A noite é do 5, Ao pé da fogueira (programa junino), Nossa Terra, Nossa Gente (titulo tirado do hino da misses). Ela chegou a produzir oito programas de uma vez.
Equipe de Buffet Open Door
Pioneira em tudo o que faz Dometila juntamente com a sua sócia Zaida Costa, abrem a primeira casa de eventos da cidade em 1979, a Open Door. Que o seu primeiro objetivo era divulgar o trabalho de jovens talentos, mais a idéia não deu certo. Então resolveram trabalhar com recepções de eventos. Foi um sucesso, realizaram grandes recepções e eventos de grandes portes dando destaque aos deliciosos carurus e a festa a beira da piscina na “casa” de Dometila.

Abriu também o Bar Ágora, localizado onde foi até pouco tempo o Banco de Boston. Com a decoração feita por Graça Piva o bar tornou-se point preferido para happy-hour de artistas e outros amigos de Dometila. Estes mesmos amigos que cogitaram a idéia de anexar ao famoso bar uma galeria de artes. E em 1982 a Galeria Genaro Carvalho abria as portas para obras de gente como Tati Moreno, Santi Scaldaferri, Justino Marinho, Carlos Bastos e Calazans Neto. As exposições temáticas, como a dedicada à venerada mãe de Jesus, contavam sempre com a colaboração entusiasmada dos mais badalados artistas da época, que produziam obras especialmente para aquele momento.

O Bar acabou não durando muito tempo. “As pessoas iam lá e me procuravam, queriam sempre a minha presença, ai teve uma hora que eu cansei. Gostava muito de festa mais não era toda hora que estava afim.” O resto acabou sendo engolido pela crise financeira na qual o Open Door mergulhou na época do Plano Collor.

Atualmente morando em Lauro de Freitas, curti a sua mais nova netinha Maria Eduarda de 04 meses e afirma ter vivido bem a sua vida, pelas realizações profissionais e pessoais, por ter conhecido quase todo o Brasil fazendo aquilo que sempre amou que é transcrever os fatos.

Dometila Garrido e sua netinha Maria Eduarda

A nós jovens jornalistas ou estudantes que estamos começando a vida profissional têm que agradecer primeiro a Deus por ter dado este presente a mídia baiana e depois a Castro Alves por ter escrito este belo poema “Vozes D'África” que foi declamado por esta grande mulher, Dometila Garrido.

 Por Fabiano Bluz

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