Entrevista com 'Maestro Souza' - [2008]
“A música representa vida” – Manuel Raimundo de Souza.
Souza foi o primeiro professor de música de Lauro de Freitas
Marcio Wesley
Tive o prazer de entrevistar para a Revista Vilas Magazine, em abril de 2008, o professor de música conhecido por todos em Lauro de Freitas por ‘Maestro Souza’. Ele me recebeu em sua casa, na sala de música. Para mim foi uma honra conversar com o meu ex- mestre e também regente do coral da Igreja Santo Amaro de Ipitanga. Souza faleceu no dia 29 de julho de 2013, mas nos deixou um belo legado a ser seguido.
O professor de música Manoel Raimundo de Souza, 70 anos, (na ocasião), casado com dona Jânia Santos de Souza, quatro netos, não aparenta a idade que tem – e não apenas pela aspecto físico, mas pela invejável visão musical e vigor jovial. Sempre bem vestido e de bem com a vida, o primeiro professor de música da cidade é m homem apaixonado e comprometido com a música.
Souza nasceu em Campina Grande, na Paraíba, e ainda muito pequeno mudou-se com os pais para a cidade de feira de Santana. Desde criança adorava brincar de construir instrumentos: bastava uma tira de elástico e um pedaço de pau e tudo estava resolvido. O professor aprendeu a tocar sozinho e, aos sete anos, já fazia algumas apresentações. Nos anos de 1980 graduou-se em música pela Universidade Católica do Salvador, agregando conhecimento à prática.
Começou a tocar com sete anos de idade
O seu despertar musical foi suscitado pelas emissoras de rádio. “As famílias ficavam ao redor do rádio para ouvir músicas, noticias, futebol e radionovelas. É claro que eu adorava ouvir música e sonhava tocar numa rádio”. Não demorou e seu sonho foi realizado e o menino tocou várias vezes na Rádio Sociedade de Feira de Santana.
Manoel de Souza serviu à Aeronáutica casou e veio morar definitivamente em Lauro de Freitas em 1966, mas já conhecia a cidade desde 1956. “Na década de 1950, Lauro de Freitas, ou melhor, Santo Amaro de Ipitanga [nome original da cidade] era apenas um vilarejo com pessoas acolhedoras. Carro era coisa luxuosa e bicicleta era raridade. A vida musical de Santo Amaro de Ipitanga era voltada para as tradições culturais, existiam poucos violeiros e nenhum estudava como deveria”, recorda.
O professor diz que era muito ‘caprichado’ e que gostava de estudar. “Todo músico tem que ter tempo para estudar e eu tinha o meu, mas adorava mesmo era colocar em prática com meus amigos. Lamento que quase todos já tenham partido desta vida”. Os moradores mais antigos dizem que Souza fazia o que bem queria com o violão e que era impressionante a sua habilidade.
“Os colegas me procuravam para tocar canções românticas e chorinhos em roda de poetas e intelectuais da cidade – era uma época boa. Lembro que alguns noivos chegaram a me convidar para fazer serenatas debaixo das janelas das casas de suas noivas. E eu ia com maior prazer, chegávamos de ponta de pé e com sutileza puxava as cordas do ‘pé de pinho’ [violão] e tocava mais ou menos assim” – e de repente o professor saca o violão e executa um belo instrumental, romântico como outrora. No final da arrebatadora execução, ele brincou: “pena que os leitores não possam ouvir”.
“Os colegas me procuravam para tocar canções românticas e chorinhos em roda de poetas e intelectuais da cidade – era uma época boa. Lembro que alguns noivos chegaram a me convidar para fazer serenatas debaixo das janelas das casas de suas noivas. E eu ia com maior prazer, chegávamos de ponta de pé e com sutileza puxava as cordas do ‘pé de pinho’ [violão] e tocava mais ou menos assim” – e de repente o professor saca o violão e executa um belo instrumental, romântico como outrora. No final da arrebatadora execução, ele brincou: “pena que os leitores não possam ouvir”.
Pena mesmo, porque a sua desenvoltura musical ainda é esplêndida. Souza nasceu para música e a música para ele. Um casamento perfeito. Os conhecimentos práticos e teóricos fazem dele um exímio professor e músico. Não sabe quantos alunos passaram pelas suas batutas até hoje. “Muita gente passou por aqui, tive e tenho alunos de todas as idades e classes sociais”.
O professo deixa um recado – “a música representa a vida e sem ela eu não teria a idade que tenho. A música é uma porta para além do imaginário, uma linguagem universal que une e desperta mil sentimentos. Acho que que a música deveria estar nas escolas, nas grades escolares, assim como as outras matérias”.
Marcio Wesley
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