por Bruna Castelo Branco
Foto: O Pobre Cartunista
Em 22 de janeiro de 1808, D. João VI e a família real portuguesa aportaram em Salvador, a então capital do Brasil. Mais tarde, preocupado com a imagem pública, D. Pedro II incentivou o trabalho dos desenhistas baianos, que comentavam a política através de caricaturas nos mais de 50 periódicos humorísticos que surgiram em 1880, preservando a máxima: “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. E assim nasceu a cultura de quadrinhos e cartuns na Bahia. Porém, a realidade atual dos cartunistas baianos hoje é diferente. De acordo com o estudioso em quadrinhos, Gutemberg Cruz, autor de dois livros na área (Feras do Humor Baiano e Traço dos Mestres), falta incentivo político para o trabalho, além da falta de interesse e espaço nos veículos de imprensa. Segundo ele, a política nacional não abre editais para desenhistas porque “os cartunistas desvendam os mistérios dos governantes”. “Há editais apenas para fotografia, artes plásticas, cinema e teatro. O poder de formar a opinião pública dos desenhistas é muito grande, há uma importância política na imagem”, avalia. Em relação aos veículos de imprensa, Gutemberg comenta sobre a atual falta de espaço para ilustrações nos jornais impressos. “Hoje temos apenas três jornais impressos em Salvador, e só um dá espaço para o cartum. Sempre brigamos para conseguir esse espaço”, conta. Se a situação na capital está ruim, no interior do estado, segundo Gutemberg, está muito pior: “Se não há espaço em Salvador, imagine no interior?”.
Gutemberg Cruz, estudioso em quadrinhos / Foto: Blog do Gutemberg
Mesmo nesse cenário, cartunistas do interior da Bahia insistem em investir no ramo. Foi o que contou o morador de Vitória da Conquista, Gil Brito, desenhista desde criança que decidiu cursar jornalismo para se aproximar mais da área. Após uma parceria com a revista Caros Amigos, Gil hoje mantem um blog autônomo para publicar seus desenhos. “Viver exclusivamente como cartunista é difícil. Preciso de uma renda fixa, por isso trabalho como jornalista. O cartum acaba complementando a renda, e o trabalho jornalístico ajuda na produção dos desenhos”, explica. Para Gil, a causa da escassez do trabalho do cartunista está diretamente ligada à própria escassez do jornalismo impresso que, em algumas cidades baianas, não existe mais. “Esse seguimento da imprensa praticamente não existe. No meio online há mais possibilidades, mas ainda assim é difícil publicar na mídia”, comenta.
Também de Vitória da Conquista, Lujan Custodio, o “Pobre Cartunista”, desistiu de seu emprego num banco para se dedicar exclusivamente ao cartum. Divulga seu trabalho através de uma página no Facebook e um blog, mas até então não conseguiu publicar em um veículo de comunicação. “É difícil entrar, as portas são mais fechadas para quem ainda é desconhecido. Não sei se não há interesse ou se o espaço já está ocupado por outros cartunistas”, explica. O desenhista partiu para a internet por ser o meio mais rápido e barato de divulgação: “é uma coisa que eu posso gerenciar, a minha é meta publicar. Quero trabalhar 24h por dia com isso. Por enquanto ganho muito pouco, mas ainda não estou muito preocupado com isso”. Mesmo com as dificuldades, o pobre cartunista não pretende desistir e de procurar formas de se manter com o desenho: “faço ilustrações para uma revista de hugby e design para uma empresa de jogos. Eu sei que é um risco, mas caso eu consiga publicar em jornais e revistas, vai ser um sonho de infância realizado. Decidi me arriscar”.
Mesmo com um mercado difícil, não é impossível conseguir visibilidade com a arte gráfica na Bahia. O chargista Alexandre Melo, conhecido como Borega, publica na imprensa em Feira de Santana e em Salvador. Ainda na faculdade de jornalismo, Borega iniciou uma parceria com o jornal Feira Hoje. Com o fechamento da redação, o desenhista foi convidado para publicar no jornal semanal Tribuna Feirense. Porém, como os colegas de vocação, não consegue se manter apenas de desenho: “Não posso dizer que estou vivendo só com isso”.
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