quinta-feira, 20 de março de 2014

HISTÓRIAS DO POVO NEGRO – SERIE 01 REVOLTA DOS MALÊS – RIO JOANES –LAURO DE FREITAS –BA- 1814 – 2014


O Carnaval de 2014 esta sendo marcado por datas especiais principalmente pela comunidade de Matriz Africana . Em Lauro de Freitas a Barraca da Gávea tradicional ponto gastrônomico e cultural, comemora hoje,Sexta Feira de Carnaval 28 anos de funcionamento e também o Bi-centenario do Combate do Rio Joanes (1814-2014) . Entre outras atividaes programadas estamos divulgando através do Café com Noticias o Projeto Historias do Povo Negro – Revolta dos Malês – Bahia – Rio Joanes . Nossa primeira publicação é contribuição do Historiador Gildasio Freitas também estudioso do tema . Recontar e resinificar a nossa história é preservar a nossa cultura. As páginas mais sangrentas da história de Lauro de Freitas – antiga Freguesia de Santo Amaro do Ipitanga- que se tem noticias, são sem sombra de dúvidas as que relatam os acontecimentos que tiveram como cenário o bucólico Rio Joanes, na localidade de Portão, no distante e tumultuado dia 28 de fevereiro de 1814. Por essa época , a cidade do Salvador ainda respirava a recém sufocada Revolta dos Alfaiates, que acabou por levar à forca e ao esquartejamento os quatro principais acusados de a liderarem, todos negros. O emprego da força e da crueldade não intimidou os escravos(as) que deflagravam uma série de rebeliões reivindicando o fim da escravidão e/ou por motivos religiosos. O Levante do Rio Joanes(1814) faz parte dos movimentos que antecederam a Revolta dos Malês em 1835. A expressão Malê vem do imalê que na língua ioruba significa muçulmano. No seu livro intitulado A Revolução dos Malês, o historiador Décio Freitas escreveu, com riqueza de detalhes, as rebeliões escravas que tiveram lugar na cidade do salvador e adjacências, na primeira metade do século XIX, no qual conta importantes histórias do nosso povo, relatando inclusive o sangrento combate do Rio Joanes. Vejamos o relato do Historiador: …Na armação de Francisco Lourenço, os insurretos eram esperados pelos escravos onde se repetiram as mortes e os incêndios. Logo seguiram para a povoação de Itapuã, onde ficava a armação de João Vaz de Carvalho. Na marcha, gritavam: Morram os brancos e os mulatos e viva a liberdade!!!…. Em Itapuã, também mataram e incendiaram, dirigindo-se a seguir ao Rio Joanes tentando alcançar o Recôncavo. Durante esse tempo, a notícia do levante chegara em Salvador. Imediatamente o governador enviou ao encontro dos rebeldes um destacamento de trinta homens da cavalaria e alguns soldados de infantaria, comandados pelo seu ajudante de ordens , coronel José Tomas Bocaciari. Com igual rapidez a notícia chegou aos distritos circunvizinhos. O sargento-mor de milícias da Torre(castelo da Praia do Forte), Manoel da Rocha Lima mobilizou sua força e todos os moradores, que marcharam ao encontro dos insurretos a fim de impedir que seguissem para o Recôncavo.  O encontro se deu em Santo Amaro do Ipitanga, ao longo do caminho qua margeava o Rio Joanes.Manoel da Rocha Lima intimou os revoltosos a se renderem, mas um dos chefes dos “rebeldes”, que montava a cavalo, adiantou-se e respondeu: “Morrer sim, entregar não!..”. Em seguida disparou contra a tropa um tiro de arma de fogo. Os escravizados não esperaram as reações, tomando logo a iniciativa. Não tinham mais que três ou quatro armas de fogo, desvantagem que naturalmente lhes foi fatal. Ainda assim, o combate se prolongou por algumas horas. Os negros não recuavam, só cedendo quando as balas os abatiam. Por volta das 14 horas, estavam completamente derrotados e a revolta sufocada. Caldas Brito, que parece haver examinado detidamente os autos, diz que os insurretos tiveram cinquenta mortos, além do maior número de feridos e prisioneiros. Os demais se dispersaram. Muitos se jogaram ao rio, morrendo grande número afogados; outros se enforcaram nas árvores. Morreram quatorzes pessoas brancas. Um número ainda maior se feriu. Os revoltosos incendiaram um total de oitenta casas, fora as instalações das armações. Os prisioneiros foram acorrentados e conduzidos para Salvador. No dia seguinte, pela manhã, o ouvidor seguiu para o local do crime a fim de proceder à devassa. Embora reconhecendo que ao major Lima se devia a salvação pública, o governador criticou-o por haver agido “precipitadamente” e usado armas de fogo contra “uns miseráveis”.  A sentença foi proferida no dia 17 de novembro do mesmo ano. Seis negros condenados à morte foram conduzidos pelas ruas públicas de Salvador até a praça da Piedade onde, depois de enforcados, tiveram suas cabeças cortadas, as quais foram levadas aos lugares dos delitos e lá expostas até que o tempo as consumisse. O combate produziu grande comoção em Salvador e repercutiu intensamente na “corte”. O massacre às margens do Rio de Joanes não será esquecido. Tem seu lugar marcado no calendário histórico e escolar do município. *Gildásio Freitas é historiador, escritor, Sócio-efetivo do IGHB – Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, e atual Presidente da ALALF -Academia de Letras e Artes de Lauro de Freitas. - 
 Fonte  ; Café com Notícias

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